Ora Então Um Grande Bem Haja ... oprazerdainsolencia@sapo.pt
Terça-feira, 8 de Março de 2005
a vida no "bairro"
eu acredito que quando um trabalho é bem feito, deve ser elogiado e sinto-me na obrigação de o apreciar independentemente daquilo de que se trate…
posto isto, um dia destes Ãa eu calmamente a passear à noite, sozinho num bairro problemático na costa da caparica (é um hobby que eu tenho) quando me deparo com um poste de iluminação avariadoÂ… acontece que durante cerca de dois metros e meio, a rua ficava totalmente à s escurasÂ… e eu tudo bemÂ… durante cerca de três segundos fiquei sem ver absolutamente nadaÂ… contudo assim que regressei à luz dei por mim sem carteira nem relógioÂ… estranheiÂ… alguns metros depois, outro poste avariadoÂ… ao atravessá-lo desapareceu-me o telemóvel que estava dentro da mochila num compartimento à parte, fechado com um pequeno cadeadoÂ… isto foi continuando e passados três ou quatro “buracos negros” dei por mim completamente nú na praça de taxis da costa da caparica com um cromo do bolicao com a imagem de um porco colado no meu raboÂ… e não estava absolutamente ninguem na ruaÂ… pelo menos que eu tenha dado contaÂ… claro que foi desagradavel porque estava frio e apanhei uma pneumonia mas foi sem dúvida um trabalho bem feitoÂ… porque isto de ser assaltado com navalhas e pistolas não tem graça nenhumaÂ… perde a arteÂ… não há aquela poesia do roubar sem dar nas vistasÂ… prefiro um trabalho bem feito e respeito todas as várias pessoas que me foram desnudando a cada passo que dava. louvados sejam esses herois incompreendidos
deve ser tremendamente difÃcil viver num bairro socialÂ… ter diariamente de evitar as mesmas minas terrestres é uma rotina desagradavelÂ… é como a pessoa dita normal que já conhece todos os buracos no caminho para casa e os evitaÂ… de qualquer forma com minas é muito mais excitanteÂ… aliás o 50 cent todas as semanas pisava três, quatro, cincoÂ… não admira ter acabado com a cara que tem hoje.
depois há sempre outras questõesÂ… lembram-se do mÃtico jogo do sapo em que este tinha de atravessar a estrada evitando os automóveis e outros obstáculos (ou estarei assim tão velho?)Â… ali o sistema é o mesmo mas com balasÂ… e só tens uma vida por isso convem mesmo desviarÂ… não convem mesmo nada é ser-se distraÃdo, há pessoas que nunca sabem onde deixam as coisas e à s tantas ficam sem uma perna “ah afinal estavas aÃ... sacana da mina”... eu conheço uma gaja assim que mora lá... só na semana passada perdeu a virgindade cinco ou seis vezes... chega a casa sempre com a mesma conversa “ó mãe perdi a virgindade” depois tem de ouvir como é natural “pois, é sempre a mesma coisa, nunca sabes onde deixas as coisas... não te compro mais nenhuma”
no “bairro” os tiroteios são tão frequentes que as pessoas até já conhecem o itinerário das balas, é do género “lá vai o 53 para a escola primária” ou então “olhem o 27 já vai atrasado para a feira dos ciganos”… é possivel inclusivamente manter diálogos com as balas…
bala – puuuuuuum (não sei como é que fazem as balas por isso fica assim)
angolano – wow quase que me acertavas hoje han? tas a progredir… fica bem sócia… props pó teu cota lá no revolver
outra bala – puuuuuum
angolano – inda agora falei ca tua filha bacanoÂ… Ãa ali na direcção do bófiaÂ… porta-te
a polÃcia passa por lá tantas vezes que se democratizou o processo de tiroteioÂ… agora lança-se a moeda ao ar para ver quem dispara primeiroÂ… no que toca a questões de respeito mútuo há que haver algum civismoÂ… somos alguns animais ou quê?
às tantas os “fora da lei” e os bófias criam laços de amizade… tanto, que agora sempre que é preciso fazer alguma rusga, são os “bandidos” que fornecem dados quanto à localização das armas e das drogas… a bófia, por seu lado, quando lá chega apreende apenas metade do material… temos de ser uns para os outros, senão este mundo estava perdido…
gera-se por vezes um intercâmbio cultural entre a “ladroagem” e os polÃciasÂ… hoje em dia a primeira coisa que um agente da autoridade diz assim que chega a casa é mais ou menos isto: “com’é dama? qual é pitéu que tu vai servir prô teu maridão? uma cachupa? ou ainda tem resto da muamba de ontem?” Â…
ao invés o “gatuno” assim que afasta a placa de zinco do buraco por onde se entra no edifÃcio diz logo: “ó maria desculpa lá o atraso, é que tive de registar uma ocorrência do tipo 332, referenciada inicialmente como um simples 412 mas que com o desenrolar dos procedimentos protocolares permitiu inferenciar que o transeunte se encontrava em transgressão pelo que foi necessário proceder á sua autuação imediata” depois a mulher responde: “porra carlão foste prô chilindró de novo? sempre igual carlão, sempre igual”
uma última referência ainda para o dia especial delas... no fundo o dia da mulher é quando um homem quiser
ora então um grande bem haja
Eu fui assaltado em Alcântara e senti...porrada do mais gratuito que há...e para além do dinheiro...levaram-me o bilhete para o concerto dos Metallica, no restelo...foi há nove anos...xiiiiiiiiii...estou velho...
Comentar: